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Eventos Espíritas Pagos

EVENTOS ESPÍRITAS PAGOS

- Leonel Varanda -

 

“No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”

(O Evangelho Segundo o Espiritismo)

 

Considerada uma prática totalmente estranha e afastada da finalidade básica do Espiritismo que é a revivescência do Cristianismo Primitivo, o elitismo encontra-se contornando o movimento espírita, em diversas manifestações, principalmente no tocante aos eventos espíritas pagos. Nesse sentido, devemos observar que na base dos problemas relacionados à elitização, encontra-se a questão do personalismo ou, simplesmente, a dificuldade de alguns confrades de aceitarem a simplicidade do Espiritismo.

 

Podemos identificar o elitismo, como sendo o “modo de ser” que consubstancia ideia, ações ou atitudes daqueles que no Grupo social atingiram um nível mais refinado de cultura, de conhecimento, e que se colocam, consciente ou inconscientemente, como ditadores de padrões de comportamento, com base numa certa liderança exercida. Daí, poderemos caracterizar o Elitismo no meio Espírita como sendo aquela tendência para as “práticas formalistas”, de verdadeiras castas intelectuais, ditando padrões exteriores de comportamento aos Espíritas e suas práticas, e, notadamente, distanciando-se do povo.

 

E, nunca é demais registrar que o Dr. Bezerra de Menezes foi enfático ao afirmar a importância de manter o Espiritismo em sua feição original, isento de práticas elitistas, conforme mensagem recebida por Chico Xavier na Comunhão Espírita Cristã, com sede em Uberaba MG.

 

É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes, sem pruridos de conquista a poderes terrestres transitórios (Bezerra de Menezes, Mensagem Unificação, Psicografada por Chico Xavier em 20.04.1963, na Cidade de Uberaba MG).

 

No sentido de esclarecer ainda mais a questão, o Espírito de Scheilla, através da psicografia de Chico Xavier, nos apresenta a mensagem intitulada “Cultura de Graça”, inserida no livro Ideal Espírita, na qual afirma, de forma clara, que o Espiritismo pode ser comparado a instituto mundial de educação gratuita.

 

Para as nossas aquisições sublimes, permite o Senhor que a Doutrina Espírita abra atualmente na Terra preciosos cursos de elevação, em que a cultura da alma nada pede à bolsa dos aprendizes. Pela administração desses valores eternos não há preço amoedado. Cada aluno da organização redentora pode comparecer de mãos vazias, trazendo simplesmente o sinal do respeito e o vaso da atenção. Jesus, o Mestre dos Mestres, passou entre os homens sem nada cobrar por seus divinos ensinamentos. E o Espiritismo, que lhe revive agora as bênçãos de amor, pode ser comparado a instituto mundial de educação gratuita, conduzindo-nos a todos, sem exigência e sem paga, do vale obscuro da ignorância para os montes da luz (Scheilla, Cultura de Graça, psicografia de Chico Xavier e inserida no livro Ideal Espírita).

 

Portanto, constitui prática estranha ao Espiritismo, o pagamento, sob qualquer forma, pelos serviços prestados ao movimento, como por exemplo, inscrições e taxas em encontros, seminários e conferências; despesas com oradores ou médiuns, ainda que a título beneficente. De forma sutil, essa prática pode caracterizar uma tendência ao profissionalismo religioso, além de constituir uma atitude elitista e contrária à finalidade do Espiritismo, cujas raízes absorvem a seiva da caridade e do ensino gratuito que sempre constitui uma característica dos valorosos apóstolos da fé Cristã, seja nos tempos apostólicos do Cristianismo nascente, seja no Cristianismo redivivo, através dos exemplos admiráveis de Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulfo e, notadamente, de Chico Xavier.

 

Deve ser registrado, também, que a reboque desse absurdo doutrinário, vem a semente do personalismo, que planta no coração e na mente de oradores e médiuns espíritas uma suposta condição de superioridade, ou relevância, que não existe na Doutrina Espírita, hoje convocada a restaurar os ensinos de Jesus no clima da humildade, da simplicidade e da solidariedade.

 

A realização de grandes congressos tem motivado os confrades espíritas a se utilizarem do expediente da cobrança de taxas, tendo em vista as despesas decorrentes de tais eventos. Anotamos aqui a existência do pensamento elitista, de exclusão dos mais simples e pobres, prática sutil em suas manobras e inadequada para o movimento espírita, pois o problema não é a necessidade de recursos, mas a forma de obtê-los. Com a cobrança de taxas, exigência para participar do evento, fica evidente a institucionalização do pagamento por benefícios, o que não encontra respaldo no corpo doutrinário.

 

O apostolado de Allan Kardec é a restauração do Cristianismo simples e claro, em que Jesus procura o povo e o povo encontra Jesus (Emmanuel, Estude e Viva).

 

Para diminuir a influência do personalismo, o ideal é que as palestras espíritas sejam realizadas nos ambientes dos Centros Espíritas, preservando-se a ideia dos pequenos grupos, conforme defende Allan Kardec no item 334 de O Livro dos Médiuns. O ideal seria a realização de pequenos encontros na simplicidade dos ambientes Espíritas, através do trabalho voluntário e sem a preocupação com o proselitismo, pois esta ação permite uma aproximação fraterna entre os companheiros de ideal, afastamento do fantasma do personalismo, participação de confrades de todos os níveis sociais e a redução sustancial das despesas, que deveriam ser suportadas pelo Grupo Espírita.

 

“Quem sabe suportar as próprias responsabilidades, dá testemunho de fé” (André Luiz, Conduta Espírita).

 

Um fato significativo e contrário à finalidade do Espiritismo, e que vem avançando no movimento Espírita, é o aparecimento, ainda sutil, dos “profissionais” da oratória, tendo em vista a exposição cada vez maior nas redes sociais. E com essa exposição cresce a possibilidade da concretização do profissionalismo religioso ou, então, acontecer o que Chico Xavier afirmou, em entrevista, que com o crescimento do elitismo e, consequentemente, do personalismo, existe a possibilidade de palestras espiritas serem feitas, apenas, por pessoas laureadas por títulos acadêmicos.

 

"É preciso fugir da tendência à "elitização" no seio do movimento espírita. É necessário que os dirigentes espíritas, principalmente os ligados aos órgãos unificadores, compreendam e sintam que o Espiritismo veio para o povo e com ele dialogar. É indispensável que estudemos a Doutrina Espírita junto às massas, que amemos a todos os companheiros, mas, sobretudo, aos espíritas mais humildes, social e intelectualmente falando, e deles nos aproximarmos com real espírito de compreensão e fraternidade . Se não nos precavermos daqui a pouco estaremos em nossas casas espíritas, apenas, falando e explicando o Evangelho de Cristo às pessoas laureadas por títulos acadêmicos ou intelectuais e confrades de posição social mais elevada” (Entrevista de Chico Xavier e registrada na obra Encontros No Tempo)

 

Ainda teríamos que acrescentar, no sentido de um alerta fraterno aos companheiros de ideal espírita, que os que estão trabalhando, consciente ou inconscientemente, pela elitização do movimento espírita estão, na verdade, trabalhando contra a tarefa do Cristo, cujo Evangelho foi construído na simplicidade e na humildade, em seus contatos com os mais necessitados, de qualquer condição social, mas, principalmente, entre os mais pobres e humildes de coração.

 

A presença de Jesus, nos moldes da humildade, simplicidade e fraternidade, encontra-se fartamente documentadas na obra mediúnica de Chico Xavier, mandato mediúnico em trabalho pela finalidade do Espiritismo, cuja característica principal é a revivescência das práticas simples do Cristianismo nascente.

 

Finalizando, devemos recordar que a Doutrina Espírita pertence aos Espíritos superiores, justamente para evitar a interferência do Espírito humano em suas bases doutrinárias, entretanto, o movimento espírita pode ou não espelhar a Doutrina dos Espíritos, em função das atitudes dos próprios espíritas, que se esquecem da finalidade do espiritismo, que é a revivescência das tradições simples do cristianismo primitivo, onde tudo era gratuito e os irmãos amavam-se como verdadeiros discípulos do Cristo, sem exigências nem pagamentos de espécie alguma.

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