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Esclarecimento Oportuno

ESCLARECIMENTO OPORTUNO

- Leonel Sivieri Varanda –

 

É indispensável manter o Espiritismo, qual foi entregue pelos Mensageiros Divinos a Allan Kardec, sem compromissos políticos, sem profissionalismo religioso, sem personalismos deprimentes.

(Bezerra de Menezes, mensagem Unificação, psicografada por Chico Xavier em 20.04.1963, Uberaba MG).

 

Muitas vezes, nos encontramos, face a face, com a adulteração ou a interpretação inadequada da mensagem mediúnica espírita, afeiçoada a interesses pessoais ou de castas, a nos recordar a sutileza dos sacerdotes políticos de todos os tempos, ao introduzirem práticas sutis, aparentemente sem importância, mas que acabam, de forma lenta e gradativa, alterando diretrizes doutrinárias, quando não chegam a perturbar mentes invigilantes, em se tratando de sérios compromissos espirituais. Quando tal situação ocorre, sentimos uma indignação clara e justa, merecendo o assunto, por si só, um esclarecimento oportuno.

 

Há tempos, estamos assistindo à utilização inadequada do pensamento de Emmanuel, contido na mensagem “Socorro Oportuno”, inserida no livro “Estude e Viva”, e sendo interpretado ou desviado de suas reais finalidades. Afirmam assim, os que estão projetando essa ideia, que “a maior caridade que podemos fazer ao Espiritismo é a sua divulgação”, esquecendo-se, entretanto, de apresentar o texto correto e de contextualizar o pensamento de Emmanuel no conteúdo geral da mensagem. Assim, o trecho extraído e adaptado do final da mensagem, estaria a serviço, principalmente, da difusão do livro ou das mensagens através das mídias sociais, dos eventos espíritas pagos, dos congressos, o que não corresponde, exatamente, à realidade.

 

Vejamos que Emmanuel, na mensagem citada, depois de referir-se àqueles “que se encontram nas últimas trincheiras da resistência ao desequilíbrio espiritual”, e a necessidade de nos lembrarmos deles, “os quase loucos de sofrimento”, solicita que trabalhemos “para que a Doutrina Espírita lhes estenda socorro oportuno”, e conclui, afirmando:

 

Estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus-Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou na palavra, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade de sua própria divulgação (Emmanuel, mensagem Socorro Oportuno, do livro Estude e Viva).

 

O pensamento de Emmanuel expressa compaixão pelos alienados mentais no sofrimento, e solicita aos Espíritas o estudo das obras de Kardec, através da mensagem libertadora do Cristo, corporificando-a através do exemplo, da ação e da palavra, para que a libertação da vítima ocorra na terapêutica do amor e pela consideração que todos devemos uns pelos outros. Mas, os “profissionais da fé” houveram por bem interpretar o pensamento de Emmanuel nos seguintes termos: “A maior caridade que podemos fazer ao Espiritismo é a sua divulgação”. Utilizando-se dessa legenda estão fazendo dela um dos maiores espetáculos da indústria do ouro, através da indústria do livro, da indústria dos eventos espíritas pagos, distanciando-se da tarefa de esclarecimento e consolo do povo, através da tarefa que deveria ser uma divulgação, em sentido amplo e desinteressada, afastada do lucro financeiro, nos moldes preconizados por Emmanuel, ou seja, através do exemplo, na ação ou na palavra, aos que estão envolvidos em sérios problemas existenciais. Afinal de contas, o que interessa ao Espírita verdadeiro é o patrimônio espiritual e doutrinário.

 

Concordamos, sem dúvida alguma, que a necessidade de divulgação do Espiritismo pelas portas do movimento editorial, com vistas à qualidade da mensagem e não ao proselitismo, é tarefa inadiável, mas não como fonte de renda para as editoras, distribuidoras, mas, simplesmente, na tarefa desinteressada da divulgação.

 

Inclusive, vale a pena registrar, que a ideia de se identificar a distribuição do livro espírita, dos eventos pagos ou qualquer forma de exploração da boa fé dos confrades, com a manutenção de atividades assistenciais é um apelo sutil para o comércio de assuntos sagrados, pois a origem do livro espírita é divina, através da mediunidade com propósitos Cristãos, e não deve ser desviada de seus objetivos essenciais, apresentada nas vias do esclarecimento e do consolo. Nesse sentido, Emmanuel destacou o entendimento da necessidade da mensagem cristã no pensamento do homem, colocando-a, inclusive, acima da tarefa assistencial, quando nos recorda que “a iluminação do espírito deve estar em primeiro lugar”, conforme texto transcrito abaixo:

 

Poderemos atender a muitos doentes, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes; mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados, na Terra. Na tarefa cristã, semelhante esforço não poderá ser esquecido, mas a iluminação do espírito deve estar em primeiro lugar. Se o homem trouxesse o Cristo no íntimo, o quadro das necessidades seria completamente modificado. A compreensão do Evangelho e da exemplificação do Mestre renovaria as noções de dor e sofrimento (Emmanuel, Paulo e Estevão).

 

Por isso, perguntamos: que espécie de divulgação é essa que se alastra no meio espírita, e se deixa envolver pelo tino comercial, vinculando assuntos espirituais a assuntos materiais, ou melhor, que divulgação é essa que atende a interesses mercantilistas, simplesmente, através do comércio do livro espírita, de eventos espíritas pagos, trabalhados com intenção clara de lucro, de se viver, por exemplo, da venda de uma Doutrina que nos chega gratuitamente, pelas vias da espiritualidade? Aliás, sem nos aprofundarmos no assunto, lembraríamos que divulgação, no sentido mercantilista do termo, quando traduzido em publicidade e propaganda, significa difusão de um produto, e a Doutrina Espírita, consubstanciando o Consolador Prometido por Jesus, não é um produto, mas uma Revelação Divina.

 

Portanto, além de modificar o texto de Emmanuel, ao afirmar que “a maior caridade que podemos fazer ao Espiritismo é a sua divulgação”, direcionaram essa legenda, de forma consciente, para a tarefa do livro espírita, dos eventos pagos, do pagamento aos profissionais da oratória, e toda sorte de tarefas que impliquem divulgação, com objetivos claros de ampliar o interesse comercial, e não no sentido de prestar esclarecimento ou consolo ao peregrino doente da Terra, que caminha em busca, prioritariamente, de sua renovação espiritual pelos ensinos de Nosso Senhor Jesus.

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Talvez seja o momento de refletirmos, nesse assunto, com mais interesse, pois ficam cada vez mais evidentes as colocações de Chico Xavier, quando concedeu entrevista ao Dr. Jarbas Leone Varanda, a respeito da elitização no movimento espírita. Se observarmos bem nas palavras de Chico, a elitização está presente, inclusive, na relação entre manutenção das atividades espíritas e o fomento da indústria do lucro, seja através da venda indiscriminada de livros espíritas, durante as palestras, encontros ou seminários pagos, ou mesmo, no pagamento a oradores, a pretexto de manutenção de obras assistenciais. Vejamos o que diz Chico Xavier.

 

“É a preocupação excessiva com a parte material das instituições, com a manutenção, por exemplo, de sócios contribuintes ao invés de sócios ou companheiros ligados pelos laços do trabalho, da responsabilidade, da fraternidade legítima; é a preocupação com o patrimônio material ao invés do espiritual e doutrinário; é a preocupação de inverter o processo de maior difusão do Espiritismo fazendo-o partir de cima para baixo, da elite intelectualizada para as massas, exigindo-se dos companheiros em dificuldades materiais ou espirituais uma elevação ou um crescimento, sem apoio dos que foram chamados pela Doutrina Espírita a fim de ampará-los na formação gradativa” (Entrevista que Chico Xavier concedeu ao Dr. Jarbas Leone Varanda e que foi publicada no jornal uberabense O Triângulo Espírita, de 20 de março de 1977, e republicada no Livro “Encontro no Tempo”).

 

Enfim, chega-nos à acústica da alma a advertência de Nosso Senhor Jesus quando afirmou que “seus discípulos seriam reconhecidos por muito se amarem”, colocando, séculos depois, nas páginas do Consolador, a legenda inesquecível: Espíritas, amai-vos eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo. Não existe, portanto, na história do cristianismo nascente ou do espiritismo, à luz de Kardec e Chico Xavier, qualquer menção à prática do mercantilismo, dos eventos pagos, do pagamento de oradores. Há, apenas, a referência à mediunidade gratuita, ao desprendimento dos bens terrenos, na mais bela epopéia de vida espiritual à Doutrina de amor e luz de Nosso Senhor.

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